Português - Morfologia (9)
Pronome
Pronome é a palavra que se usa em lugar do nome, ou a ele se refere, ou ainda, que acompanha o nome qualificando-o de alguma forma.
Exemplos:
- A moça era mesmo bonita. Ela morava nos meus sonhos!
[substituição do nome]
- A moça que morava nos meus sonhos era mesmo bonita!
[referência ao nome]
- Essa moça morava nos meus sonhos!
[qualificação do nome]
Grande parte dos pronomes não possuem significados fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro de um contexto, o qual nos permite recuperar a referência exata daquilo que está sendo colocado por meio dos pronomes no ato da comunicação.
Com exceção dos pronomes interrogativos e indefinidos, os demais pronomes têm por função principal apontar para as pessoas do discurso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situação no tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica, os pronomes apresentam uma forma específica para cada pessoa do discurso.
Exemplos:
- Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada.
[minha/eu: pronomes de 1ª pessoa = aquele que fala]
- Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada?
[tua/tu: pronomes de 2ª pessoa = aquele a quem se fala]
- A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada.
[dela/ela: pronomes de 3ª pessoa = aquele de quem se fala]
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em número (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência através do pronome seja coerente em termos de gênero e número (fenômeno da concordância) com o seu objeto, mesmo quando este se apresenta ausente no enunciado.
Exemplos:
- [Fala-se de Roberta]
- Ele quer participar do desfile da nossa escola neste ano.
[nossa: pronome que qualifica "escola" = concordância adequada]
[neste: pronome que determina "ano" = concordância adequada]
[ele: pronome que faz referência à "Roberta" = concordância inadequada]
Existem oito tipos de pronomes: pessoais, possessivos, demonstrativos, indefinidos, relativos, interrogativos, reflexivos e recíprocos.
Pronomes Pessoais
São aqueles que substituem os substantivos, indicando diretamente as pessoas do discurso.
Quem fala ou escreve assume os pronomes eu ou nós, usa os pronomes tu, vós, você ou vocês para designar a quem se dirige e ele, ela, eles ou elas para fazer referência à pessoa ou às pessoas de quem fala.
Os pronomes pessoais variam de acordo com as funções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto ou do caso oblíquo.
Pronome Reto
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sentença, exerce a função de sujeito, predicativo do sujeito, aposto ou vocativo, esse último com tu e vós. Por exemplo:
Nós lhe ofertamos flores.
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gênero (apenas na 3ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a principal flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso. Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é assim configurado:
- 1ª pessoa do singular: eu
- 2ª pessoa do singular: tu
- 3ª pessoa do singular: ele, ela
- 1ª pessoa do plural: nós
- 2ª pessoa do plural: vós
- 3ª pessoa do plural: eles, elas
Atenção: esses pronomes não costumam ser usados como complementos verbais na língua-padrão. Frases como "Vi ele na rua" , "Encontrei ela na praça", "Trouxeram eu até aqui", comuns na língua oral cotidiana, devem ser evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua formal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspondentes: "Vi-o na rua", "Encontrei-a na praça", "Trouxeram-me até aqui".
Obs.: frequentemente observamos a omissão do pronome reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias formas verbais marcam, através de suas desinências, as pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto e o número gramatical. É um excelente recurso de economia linguística que confere desenvoltura e elegância à frase. Por exemplo:
Fizemos boa viagem. (Nós)
O pronome sujeito se faz presença, entretanto, quando se deseja, enfaticamente, chamar a atenção para a pessoa, em caso de oposição entre diferentes pessoas gramaticais, e em formas comuns à 1ª e à 3ª pessoa gramatical.
Pronome Oblíquo
Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sentença, exerce a função de objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, agente da passiva, adjunto adnominal, adjunto adverbial ou sujeito de verbo no infinitivo - com verbo causativo ou sensitivo. Por exemplo:
Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)
Obs.: em verdade, o pronome oblíquo é uma forma variante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação indica a função diversa que eles desempenham na oração: pronome reto marca o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o complemento da oração.
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou tônicos.
Pronome Oblíquo Átono
São chamados átonos os pronomes oblíquos que não são preposicionados. Exercem a função sintática de objeto direto, objeto indireto, adjunto adnominal, complemento nominal ou sujeito de verbo no infinitivo (com verbo causativo ou sensitivo).
Possuem acentuação tônica fraca. Por exemplo:
Ele me deu um presente.
O quadro dos pronomes oblíquos átonos é assim configurado:
- 1ª pessoa do singular (eu): me
- 2ª pessoa do singular (tu): te
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): se, o, a, lhe
- 1ª pessoa do plural (nós): nos
- 2ª pessoa do plural (vós): vos
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): se, os, as, lhes
Observações:
O lhe é o único pronome oblíquo átono que já se apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união entre o pronome o ou a e preposição a ou para, diferentemente dos demais pronomes, que se apresentam na forma simples. Por acompanhar diretamente uma preposição, o pronome lhe exerce sempre a função de objeto indireto na oração.
Os pronomes me, te, se, nos e vos podem tanto ser objetos diretos como objetos indiretos.
Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como objetos diretos.
Saiba que:
Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem combinar-se com os pronomes o, os, a, as, dando origem a formas como mo, mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, lhas; no-lo, no-los, no-la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. Observe o uso dessas formas nos exemplos que seguem:
- Trouxeste o pacote?
- Sim, entreguei-to ainda há pouco.
- Não contaram a novidade a vocês?
- Não, não no-la contaram.
No português do Brasil, essas combinações não são usadas; até mesmo na língua literária, jurídica, religiosa e científica atual, seu emprego é muito raro. No português de Portugal, essas combinações são frequentes, mesmo na linguagem informal e nos textos argumentativos.
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Atenção:
Os pronomes o, os, a, as assumem formas especiais depois de certas terminações verbais. Quando o verbo termina em -z, -s ou -r, o pronome assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo tempo que a terminação verbal é suprimida. Por exemplo:
fiz + o = fi-lo
fazeis + o = fazei-lo dizer + a = dizê-la
Quando o verbo termina em som nasal, o pronome assume as formas no, nos, na, nas. Por exemplo:
viram + o: viram-no
repõe + os = repõe-nos retém + a: retém-na tem + as = tem-nas Quando o verbo termina em vogal ou ditongo oral, esses pronomes não se alteram: esperei + o = esperei-o. |
Pronome Oblíquo Tônico
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos por preposições, em geral as preposições a, para, de e com. Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função de objeto direto preposicionado, objeto indireto, complemento nominal, agente da passiva ou adjunto adverbial da oração. Possuem acentuação tônica forte.
O quadro dos pronomes oblíquos tônicos é assim configurado:
- 1ª pessoa do singular (eu): mim, comigo
- 2ª pessoa do singular (tu): ti, contigo
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): ele, ela
- 1ª pessoa do plural (nós): nós, conosco
- 2ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): eles, elas
- Observe que as únicas formas próprias do pronome tônico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto.
- As preposições essenciais introduzem sempre pronomes pessoais do caso oblíquo, enquanto as preposições acidentais sempre introduzem pronomes pessoais do caso reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da língua formal, os pronomes costumam ser usados desta forma:
Não há mais nada entre mim e ti.
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
Não há nenhuma acusação contra mim.
Não vá sem mim.
Atenção:
Há construções em que a preposição, apesar de surgir anteposta a um pronome, serve para introduzir uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos, o verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um pronome, deverá ser do caso reto. Na língua popular, e até por escritores de renome, é comum o uso do pronome oblíquo. Por exemplo:
Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
Não vá sem eu mandar. |
- A combinação da preposição "com" e alguns pronomes originou as formas especiais comigo, contigo, consigo, conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos frequentemente exercem a função de adjunto adverbial de companhia. Por exemplo:
Ele carregava o documento consigo.
- As formas "conosco" e "convosco" são substituídas por "com nós" e "com vós" quando os pronomes pessoais são reforçados por palavras como outros, mesmos, próprios, todos, ambos ou algum numeral, aposto explicativo ou oração subordinada adjetiva. Por exemplo:
Você terá de viajar com nós todos.
Estávamos com vós outros quando chegaram as más notícias.
Ele disse que iria com nós três.
Estávamos com vós outros quando chegaram as más notícias.
Ele disse que iria com nós três.
Pronome Reflexivo
São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcionem como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação expressa pelo verbo. Indicam que a ação reflete no próprio sujeito.
O quadro dos pronomes reflexivos é assim configurado:
- 1ª pessoa do singular (eu): me, mim. Por exemplo:
Eu não me vanglorio disso.
Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi.
Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi.
- 2ª pessoa do singular (tu): te, ti.Por exemplo:
Assim tu te prejudicas.
Conhece a ti mesmo.
Conhece a ti mesmo.
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo.Por exemplo:
Guilherme já se preparou.
Ela deu a si um presente.
Antônio conversou consigo mesmo.
Ela deu a si um presente.
Antônio conversou consigo mesmo.
- 1ª pessoa do plural (nós): nos. Por exemplo:
Lavamo-nos no rio.
- 2ª pessoa do plural (vós): vos. Por exemplo:
Vós vos beneficiastes com a esta conquista.
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo. Por exemplo:
Eles se conheceram.
Elas deram a si um dia de folga.
Nos três últimos casos, tem-se um pronome recíproco, pois indicam que a ação é mútua entre os sujeitos.
Elas deram a si um dia de folga.
Nos três últimos casos, tem-se um pronome recíproco, pois indicam que a ação é mútua entre os sujeitos.
A Segunda Pessoa Indireta
A chamada segunda pessoa indireta se manifesta quando utilizamos pronomes que, apesar de indicarem nosso interlocutor (portanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pessoa.
É o caso dos chamados pronomes de tratamento, usados para se referir a pessoas de modo cerimonioso ou oficial, que podem ser observados no quadro seguinte:
Pronomes de Tratamento
Vossa Alteza | V. A. (VV. AA.) | príncipes, princesas, duques, duquesas, arquiduques e arquiduquesas |
Vossa Eminência | V. Ema. (s) | cardeais |
Vossa Reverendíssima | V. Revma. (s) | sacerdotes e religiosos em geral |
Vossa Excelência | V. Exa. (s) | altas autoridades do Governo e oficiais-generais das Forças Armadas |
Vossa Magnificência | V. Maga. (s) | reitores de universidades e de outras instituições de ensino superior |
Vossa Majestade | V. M. (VV. MM.) | reis e rainhas |
Vossa Majestade Imperial | V. M. I. | imperadores e imperatrizes |
Vossa Santidade | V. S. | Papa e Dalai Lama |
Vossa Senhoria | V. Sa. (s) | funcionários públicos graduados, oficiais até coronel, pessoas de cerimônia. É bastante frequente na correspondência comercial |
Vossa Onipotência | V. O. | Deus |
Também são pronomes de tratamento senhor, senhora, senhorita, dom, dona, madame, doutor, doutora, professor, professora e você, vocês. "O senhor" e "a senhora" são empregados no tratamento respeitoso; "você" e "vocês", no tratamento íntimo e familiar. Você e vocês são largamente empregados no português do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é de uso frequente, em outras, é muito pouco empregada. Já a forma vós tem uso restrito à linguagem litúrgica, ultraformal ou literária e às questões de vestibulares e concursos.
Para bispos e arcebispos, usa-se o pronome Vossa Excelência Reverendíssima (V. Exa. Revma.)
Para abades e superiores dos conventos, usa-se o pronome Vossa Paternidade (V. P.)
Observações:
a) Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de tratamento que possuem "Vossa (s)" são empregados em relação à pessoa com quem falamos. Por exemplo:
Espero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este encontro.
Emprega-se "Sua (s)" quando se fala a respeito da pessoa. Por exemplo:
Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, agiu com propriedade.
- Os pronomes de tratamento representam uma forma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo, estamos nos endereçando à excelência que esse deputado supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.
b) 3ª pessoa: embora os pronomes de tratamento se dirijam à 2ª pessoa, toda a concordância deve ser feita com a 3ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessivos e os pronomes oblíquos empregados em relação a eles devem ficar na 3ª pessoa. Por exemplo:
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas promessas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos.
c) Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos ou nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo do texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente. Assim, por exemplo, se começamos a chamar alguém de "você", não poderemos usar "te" ou "teu". O uso correto exigirá, ainda, verbo na terceira pessoa. A primeira pessoa é neutra, pode ser misturada com qualquer uma. Por exemplo:
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus cabelos. (errado)
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos seus cabelos. (correto)
Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus cabelos. (correto)
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos seus cabelos. (correto)
Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus cabelos. (correto)
Sai que é sua, Taffarel. (errado)
Saia que é sua, Taffarel. (correto)
Sai que é tua, Taffarel. (correto)
Saia da Sibéria e vem pra Net já. (errado)
Saia da Sibéria e venha para a Net já. (correto)
Sai da Sibéria e vem para a Net já. (correto)
Você quer um desconto? Faz um 21. (errado)
Você quer um desconto? Faça um 21. (correto)
Tu queres um desconto? Faz um 21. (correto)
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