Português - Estilística (3)

Catacrese

Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, toma-se outro "emprestado".
Assim, passamos a empregar algumas palavras fora de seu sentido original. Exemplos:
"asa da xícara"
"maçã do rosto"
"braço da cadeira"
"batata da perna"
"pé da mesa"
"coroa do abacaxi"

Perífrase

Trata-se de uma expressão que designa um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou. Veja o exemplo:
A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua atraindo visitantes do mundo todo.
Obs.: quando a perífrase indica uma pessoa, recebe o nome de antonomásia.
Exemplos:
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida praticando o bem.
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jovem.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções.

Existe uma construção chamada perífrase verbal. Ocorre quando uma locução verbal substitui um verbo simples, como “vamos ficar” em vez de “ficaremos” e “vou conseguir” em vez de “conseguirei”.

Na linguagem popular, o apelido ou alcunha é uma forma de antonomásia.

Exemplos consagrados:


Filho de Deus (Jesus Cristo)
O Apóstolo dos Gentios (São Paulo)
O Estagirita (Aristóteles)
Dama de Ferro (Margaret Thatcher)
Rei do Futebol (Pelé)
El Diez (Diego Maradona)
O Bardo (William Shakespeare)
Il Duce (Benito Mussolini)
La Divina (Maria Callas)
Rainha do Pop (Madonna)
Chanceler de Ferro (Otto von Bismarck)
Rei do Rock (Elvis Presley)
A Voz (Frank Sinatra)
El Caudillo (Francisco Franco)
Führer (Adolf Hitler)
Rei do Pop (Michael Jackson)
El Morocho del Abasto (Carlos Gardel)
The Boss (Bruce Springsteen)
Rainha do Soul (Aretha Franklin)
Barão Vermelho (Manfred von Richthofen)
O Libertador (José de San Martín)
Cidade Maravilhosa (Rio de Janeiro)
Planeta Vermelho (Marte)
Onde o Sol nasce primeiro (João Pessoa)
Big Apple (Nova Iorque)
Cidade Eterna (Roma)
Cidade Invicta (Porto)
Cidade Luz (Paris)
Terra do Sol Nascente (Japão)
Veneza Brasileira (Recife)
Rainha da Borborema (Campina Grande)
Terra da Garoa (São Paulo)

O Poeta dos Escravos - Castro Alves.

O Patriarca da Independência - José Bonifácio.

O Águia de Haia - Rui Barbosa.

O Salvador, o Nazareno, o Redentor, O Divino Mestre - Jesus Cristo.

O Herói de Tróia - Aquiles.

O Berço dos Faraós - Egito.

O Herói das Termópilas - Leônidas.


O Pai da Medicina - Hipócrates.

Sinestesia

Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.
Exemplos:
Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito = auditivo; áspero = tátil)
No silêncio negro do seu quarto, aguardava os acontecimentos. (silêncio = auditivo; negro = visual)
Fora do contexto gramatical, a sinestesia é usada na medicina, referindo-se a um fenômeno neurológico caracterizado pela percepção de sensações distintas, provocadas por um só estímulo.

O cérebro processa as informações recebidas pelos sentidos de um modo diferente do habitual, misturando som, cor, sabor, cheiro,…

Não devemos confundir sinestesia com cinestesia e cenestesia. São conceitos distintos, que não se encontram relacionados:

Cinestesia se refere ao sentido que permite a percepção dos movimentos musculares do corpo.

Cenestesia indica as impressões sensoriais que ocorrem internamente no organismo, independentemente dos órgãos dos sentidos.

Figuras de pensamento

Dentre as figuras de pensamento, as mais comuns são:

Antítese ou Contraste

Consiste na utilização de dois termos que contrastam entre si. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.
O contraste que se estabelece serve, essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos que não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos. Observe os exemplos:
"O mito é o nada que é tudo." (Fernando Pessoa)
O corpo é grande e a alma é pequena.
"Quando um muro separa, uma ponte une."
"Desceu aos pântanos com os tapires; subiu aos Andes com os condores." (Castro Alves)
Felicidade tristeza tomaram conta de sua alma.

Paradoxo ou Oxímoro

Consiste numa proposição aparentemente absurda, resultante da união de ideias contraditórias. Veja o exemplo:
Na reunião, o funcionário afirmou que o operário quanto mais trabalha mais tem dificuldades econômicas.
Alguns autores defendem que oxímoro, oximoro ou oximóron são termos mais corretos que paradoxo, por serem vocábulos da área da gramática, enquanto paradoxo é um vocábulo da área da filosofia.

Eufemismo

Consiste em empregar uma expressão mais suave, mais nobre ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa áspera, desagradável ou chocante. Exemplos:
Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor. (= morreu)
O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)
Fora do contexto gramatical, a palavra eufemismo é usada como sinônimo de moderação, suavização, atenuação, mitigação, comedimento, abrandamento e adoçamento.

Ironia ou Antífrase

Consiste em dizer o contrário do que se pretende ou em satirizar, questionar certo tipo de pensamento com a intenção de ridicularizá-lo, ou ainda em  ressaltar algum aspecto passível de crítica.
A ironia deve ser muito bem construída para que cumpra a sua finalidade; mal construída, pode passar uma ideia exatamente oposta à desejada pelo emissor. Veja os exemplos abaixo:
Como você foi bem na última prova, não tirou nem a nota mínima!
Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que estão por perto.

Hipérbole ou Auxese

É a expressão intencionalmente exagerada com o intuito de realçar uma ideia. Exemplos:
Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.
"Rios te correrão dos olhos, se chorares." (Olavo Bilac)
Fora do contexto gramatical, a hipérbole é usada na geometria.

Prosopopeia, Personificação ou Animismo

Consiste em atribuir ações ou qualidades de seres animados, como fala, movimento e raciocínio, a seres inanimados, ou características humanas a seres não humanos.
Observe os exemplos:
As pedras andam vagarosamente.
O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um cego que guia.
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra.
O vento fazia promessas suaves a quem o escutasse.
Chora, violão.

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