Sete grandes "pecados" da crase

PECADO NÚMERO 1

"Ela viajou à convite do governador."

Afora o caso em que está implícita a locução prepositiva “à moda de” (Elaborou a redação à [moda de] Machado de Assis, José de Alencar, Fernando Pessoa, Dior), não há crase antes de palavras masculinas.

"Convite" é nome masculino: "o" convite.

Por isso, “Ela viajou a convite do governador”, sem crase.


PECADO NÚMERO 2

“Lula está se dedicando à reeleger Dilma."

Não há crase antes de verbo no infinitivo.

“Reeleger” é verbo.

Logo, “Lula está se dedicando a reeleger Dilma".


PECADO NÚMERO 3

"O diretor se referiu à ela."

Afora o caso facultativo dos pronomes possessivos (minha, tua, sua, nossa e vossa), não há crase antes dos pronomes pessoais, demonstrativos (exceto aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo, aqueloutro, aqueloutra, aqueloutros, aqueloutras, mesma, própria e tal), indefinidos (exceto outra e outras), interrogativos e relativos (exceto a qual e as quais), inclusive os femininos.

Motivo: esses pronomes rejeitam a anteposição de artigo.

Não se diz “A ela é bonita”, mas simplesmente “Ela é bonita”.

Assim, "O diretor se referiu a ela".

PECADO NÚMERO 4

"O professor se dirigiu à você."

"Ele se dirigiu à Vossa Excelência com muito respeito."

Afora o caso dos pronomes senhora, senhorita, dona e madame, não se usa artigo antes de pronome de tratamento: "Você é muito linda", e não "A você é muito bonita"; "Vossa Excelência está certa", e não "A Vossa Excelência está certa.

Portanto, não ocorre crase em  "O professor se referiu a você" e "Ele se dirigiu a Vossa Excelência com muito respeito".

Observação: Às vezes os pronomes senhora, senhorita, dona e madame ceitam artigo, razão pela qual pode ocorrer crase no "a" que os precede.

PECADO NÚMERO 5

“Ele deixou as latas de tinta em frente à telas em branco.”

Não há crase no "a" no singular seguido de palavra no plural, quando tomados em sentido genérico. Quando tomados em sentido específico, passam a ser precedidos do artigo as, logo, admitem a crase: ''Deixou as latas de tinta em frente às telas em branco''.

Assim, "Ele deixou as latas de tinta em frente a telas em branco".

PECADO NÚMERO 6

"Nós trabalhamos de segunda à sexta."

Só há crase na correlação “de... a...” quando a preposição “de” aparece combinada com artigo, como em “Funciona do meio-dia às 18 horas”.

De outra forma, nada de crase: "Nós trabalhamos de segunda a sexta / de segunda a sábado / de segunda a domingo / de terça a sexta / de terça a sábado / de terça a domingo / de quarta a domingo".

PECADO NÚMERO 7

"Ele se declarou à uma linda garota."

Não ocorre crase antes da palavra "uma", pois ela rejeita a anteposição do artigo "a".

Diz-se "ela é uma garota bonita", e não "ela é a uma garota bonita".

Dessa forma, "Ele se declarou a uma gatora bonita".

Atenção! Quando “uma” for numeral, pode haver crase, principalmente se expressar hora.

É o que ocorre em “O jogo começa à uma em ponto”.

1. Antes de palavras masculinas (que não deem a ideia de moda, maneira, estilo):
“Viajou a serviço neste fim de semana.”

2. Antes de verbos:
“A partir de hoje, haverá novas ciclovias.”

3. Antes de artigos indefinidos:
“Sousa dirigiu-se a uma antiga funcionária. Elogiou-a.”

4. Antes de pronomes indefinidos:
“Peça a alguém um longo abraço.”

5. Antes dos demonstrativos “este, esse, esta, essa, isto, isso” e variações:
“Ofereceu os serviços a esta empresa.”

6. Antes de pronomes pessoais, indefinidos e interrogativos:
“Jamais o presidente referiu-se a mim.”

7. Antes dos tratamentos oficiais (Vossa Excelência, Senhoria, Majestade, Alteza, Magnificência, Santidade, Reverendíssima, Eminência):
“O documento já foi entregue a Vossa Excelência.”

8. Antes de ideias genéricas (quando o A estiver no singular):
“O brasileiro tem a mania de não obedecer a leis.”

9. Entre palavras repetidas, com exceção de 'é preciso declarar guerra à guerra' e 'é preciso dar mais vida à vida':
“Ontem ficaram cara a cara.”

10. Antes de nome feminino tomado em sentido genérico:
“Candidata a rainha do carnaval, Sara é ídolo na Tijuca.”

Nesse último caso, se usássemos uma palavra masculina, não veríamos o artigo definido masculino: “Candidato a rei do carnaval, …”

    Sete são os dias da semana. Sete são os pecados capitais. Sete são as maravilhas do mundo. Sete são as vidas do gato. Sete são as notas musicais. Sete são os anões da Branca de Neve. Sete são os dias gastos por Deus pra criar o mundo. Sete são os portais da eternidade. Sete dias é duração de cada fase da lua. Sete anos é o tempo para a renovação interna por que passamos ao longo da vida.
  Número tão especial mereceu sugestão de pessoa pra lá de especial. “Vamos falar dos sete pecados da língua?”, pergunta Marcelo Abi. “Claro que há muitos assuntos a serem tratados. O blog poderia, então, fazer uma série. Cada tema mereceria uma lição. Que tal começar pela crase? O acentinho me deve muitas horas de sono.” Leitor não pede. Manda. A seguir, as escapadinhas que levam os descuidados a arder nas fogueirinhas do inferno.

Não use o acento grave
  1. antes de nome masculino. Crase é o casamento de dois aa. Um deles é a preposição. O outro, o artigo. Ora, o pequenino a só tem vez antes de nome feminino. O machinho pede o: Bebê a bordo. Saiu a todo vapor. (Compare: Os sapatos com salto alto e fino são à Luís XV. Nesse caso, está subentendida a locução prepositiva à moda de)
  2. com palavras repetidas: cara a cara, uma a uma, gota a gota, face a face, semana a semana, frente a frente. (Compare: É preciso declarar guerra à guerra. É preciso dar mais vida à vida)
  3. antes dos pronomes pessoais, indefinidos, interrogativos e os demonstrativos esta, essa:   Dirigiu-se a esta funcionária. Confessou a ela as trapaças que havia feito. Saiu a toda. É honesto a toda prova. Aplaudia o funcionário a cada etapa vencida. Assistiu a algumas cenas do filme. O assessor fala com o presidente a qualquer hora. A qual delas você se dedica? A quem você deve dinheiro?
Com pronome possessivo, o acento grave é facultativo: Obedeço à sua professora. / Obedeço a sua professora. / Obedeço a suas regras. / Obedeço às suas regras.
  4. com o a no singular seguido de nome plural, tomado em sentido genérico: Assistiu a reuniões durante o dia. Falou a professoras presentes ao evento. Vai a cidades sugeridas no roteiro. Conseguiu o emprego a duras penas.
  5. com o casalzinho de…a: Trabalho de domingo a domingo. Viajo de segunda a segunda. De quarta a sexta, faço plantão de 24 horas.
  6. antes de nome de cidade (não qualificada com um adjunto adnominal): Chegou a Brasília. Bem-vindo a São Paulo. Vou a Moscou, a Paris e a Roma. (Com adjetivo ou locução adjetiva: Chegou à Brasilia de JK. Foi à Moscou dos czares, à Paris da alta costura e à Roma dos papas. Bem-vindo à São Paulo dos bandeirantes.)
  7. antes da locução a distância (não especificada): Siga-a discretamente, a distância. A universidade oferece cursos a distância. A distância, todos os gatos são pardos. (Se a distância for determinada, o acento tem vez: Segui Maria à distância de mais ou menos 100m. Os sem-terra marchavam à distância de um quilômetro.)

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