Português - Estilística (6)

Vícios de linguagem

Ao contrário das figuras de linguagem, que representam realce e beleza às mensagens emitidas, os vícios de linguagem são palavras ou construções que vão de encontro às normas gramaticais.
Os vícios de linguagem costumam ocorrer por descuido, ou ainda por desconhecimento das regras por parte do emissor. Observe a seguir.

Pleonasmo vicioso, tautologia ou redundância

Diferentemente do pleonasmo literário, de reforço, estilístico ou semântico, tem-se pleonasmo vicioso quando há repetição desnecessária de uma informação na frase, não intencional e sem valor estilístico. Exemplos:
Entrei para dentro de casa quando começou a anoitecer.
Hoje fizeram-me uma surpresa inesperada.
Encontraremos outra alternativa para esse problema.
Exemplos consagrados: 24 horas por dia, acabamento final, almirante da Marinha, aprimorar para melhor, autocontrolar-se, brigadeiro da Aeronáutica, climatologia geográfica, consenso geral, deferir favoravelmente, déficit negativo, degenerar para pior, demasiadamente excessivo, demente mental, descer para baixo, detalhe minucioso, elo de ligação, empréstimo temporário, entrar para dentro, erário público, escolha opcional, feminismo libertário, evidência concreta, alvo certo, medidas extremas de último caso, general do Exército, hermeticamente fechado, limite extremo, metades iguais, modelo de referência, consultoria especializada, holerite de pagamento, monopólio exclusivo, outra alternativa, prefeitura municipal, própria autobiografia, propriedade característica, quantia exata, resultado do laudo, retornar de novo, sair para fora, seguir em frente, si mesmo, sintoma indicativo, subir para cima, superávit positivo, surpresa inesperada, todos foram unânimes, vereador da cidade, voltar atrás, exultar de alegria, destaque excepcional, vandalismo criminoso, propriedade característica, demasiadamente excessivo, pilar de sustentação, consumismo exagerado, preconceito intolerante, assessor direto, número exato, despesas com gastos, labaredas de fogo, goteira no teto, um mês de mensalidade, última versão definitiva, fone de ouvido, estrelas do céu, canja de galinha, países do mundo, hepatite do fígado, infarto do coração, hemorragia de sangue, decapitar a cabeça, infiltrar-se para dentro, exportar para fora, importar para dentro, louco da cabeça, surdo do ouvido, cego dos olhos, comer com a boca, cheirar com o nariz, lamber com a língua, adicionar mais, formato PDF, número PIN, display LCD, rede LAN, memória RAM, modulação FM / AM, protocolo HTTP / IP, VoIP, frequência VHF / UHF, código UPC, sistema DOS, número ISBN, síndrome AIDS, frango KFC, gás LPG, computador RISC, interface MIDI, conferência NFC, formato GIF, míssil SAM, laboratórios UL, adaptador VGA, unidade CPU, índice CPI, hospital MASH, países OPEC, teste SAT, número VIN, trens ferroviários, panaceia universal, esquecimento involuntário, filho primogênito, utopia inatingível, abismo sem fundo, túnel subterrâneo, safra agrícola, programar primeiro, seus respectivos lugares, criança pequena, breve alocução, desembolsar dinheiro do bolso, pomar de frutas, plebiscito popular, emulsão de óleo, pancreatite do pâncreas, milênios de anos, lugar incerto e não sabido, recuar para trás, defecar pelo ânus, receber mensalmente pelo mês, manusear com as mãos, crise caótica, árvore oca por dentro, desejar votos de felicidade, palavra de honra, individualidade inigualável, jantar de noite, luzes acesas, filhote novo, filhote pequeno, mínimos detalhes, dois gêmeos, direito individual de cada um, transporte coletivo de todos, cair um tombo, teimar com insistência, palma das mãos, planta dos pés, voar pelos ares, descobrir primeiro, novidade inédita, ocasião favorável, pico culminante, eis aqui, reincidir de novo no mesmo erro, repetir outra vez, substituir um dispositivo por outro, manter o mesmo time, batom na boca, motorista de táxi de praça, acordo amigável, contratempo inesperado, parâmetro de comparação, sabatina de perguntas, histeria feminina, intenção pretendida, vacina preventiva, suposição hipotética, útero materno, loção de barba para homens, visor ótico, biografia pregressa, blitz relâmpago, vomitar impropérios pela boca, lugar incerto e não sabido, liquidação dos liquidantes, coexistir simultaneamente, check-up geral, adega de bebidas, distinguir a distinção, valor unitário de R$ 10,00 cada, parte integrante da diretoria, detalhe feminino da mulher, decreto governamental, expectativa futura, o mais predileto, gerenciamento da rotina do trabalho diário, percorrer a pé, vereador municipal, cair um tombo, pé de laranjeira, pescar peixe, laços de aliança, etc.
Observação: o pleonasmo é considerado vício de linguagem quando usado desnecessariamente, no entanto, quando usado para reforçar a mensagem, constitui uma figura de linguagem.

Barbarismo

É o desvio da norma que ocorre nos seguintes níveis:
1) Pronúncia
a) Silabada: erro na pronúncia do acento tônico. Por exemplo:
Solicitei à cliente sua rúbrica. (rubrica)
b) Cacoépia: erro na pronúncia dos fonemas. Por exemplo:
Estou com poblemas a resolver. (problemas)
c) Cacografia: erro na grafia ou na flexão de uma palavra. Exemplos:
Eu advinhei quem ganharia o concurso. (adivinhei)
O segurança deteu aquele homem. (deteve)
2) Morfologia
Exemplos:
Se eu ir aí, vou me atrasar. (for)
Sou a aluna mais maior da turma. (maior)
3) Semântica
Por exemplo:
José comprimentou seu vizinho ao sair de casa. (cumprimentou)
4) Estrangeirismos
Considera-se barbarismo o emprego desnecessário de palavras estrangeiras, ou seja, quando já existe palavra ou expressão correspondente na língua. Na linguagem da informática, da internet e do mundo dos negócios, são admissíveis. Alguns, como shopping, marketing, download, design, funk, outdoor, joint venture, fast food, já foram incorporados à língua portuguesa em sua forma original.
Se já existir alguma forma aportuguesada ou equivalente em português, não o empregue: segregação racial e não apartheid; meios de comunicação e não mídia ou media; encanto e não glamour; senhora e não lady; fim de semana e não weekend; desempenho, atuação ou apresentação e não performance; reunião e não meeting; anticoncepcional e não contraceptivo; automatização e não automação (de automation).
Exemplos:
show é hoje! (espetáculo)
Vamos tomar um drink? (bebida ou drinque)

Solecismo

É o desvio de sintaxe, podendo ocorrer nos seguintes níveis:
1) Concordância
Por exemplo:
Houveram muitas eleições nos últimos anos. (houve)
Fazem três meses que terminei os estudos. (faz)
A gente somos inútil. (é)
2) Regência
Por exemplo:
Eu assisti o documentário. (ao)
Sempre obedeci o diretor. (ao)
Vamos no cinema. (ao)
3) Colocação pronominal
Por exemplo:
Não ofereci-lhe o presente. (não lhe ofereci)
Foi ela quem ofereceu-lhe as flores. (foi ela quem lhe ofereceu)
Oferecerei-lhe uma rosa. (oferecer-lhe-ei)

Ambiguidade ou anfibologia

Ocorre quando, por falta de clareza, há duplicidade de sentido da frase. Exemplos:
Ana disse à amiga que seu namorado havia chegado. (O namorado é de Ana, da amiga ou da pessoa com quem se fala?)
O pai  falou com o filho caído no chão. (Quem estava caído no chão? Pai ou filho?)

Cacofonia

Ocorre quando a junção de duas ou mais palavras na frase provoca som desagradável ou palavra inconveniente. Exemplos:
Uma mão lava outra. (mamão)
Vi ela na esquina. (viela)
Dei um beijo na boca dela. (cadela)

Eco

Ocorre quando há palavras na frase com terminações iguais ou semelhantes, provocando dissonância. É um tipo de rima na prosa. Por exemplo:
A divulgação da promoção não causou comoção na população.

Hiato

Ocorre quando há uma sequência de vogais, provocando dissonância. Exemplos:
Eu a amo.
Ou eu ou a outra ganhará  o concurso.

Colisão

Ocorre quando há repetição de consoantes iguais ou semelhantes, provocando dissonância. Por exemplo:
Susaia sujou.

Existem outros vícios de linguagem: vulgarismo (uso de expressões que não se enquadram no padrão culto), plebeísmo (uso de clichês, gírias e expressões populares que indicam falta de instrução), neologismo (criação desnecessária de palavras novas, por haver palavras já existentes no português), arcaísmo (uso de palavras e expressões já ultrapassadas, como o pretérito mais-que-perfeito simples), preciosismo (linguagem exagerada para transmitir ideias simples, muito usual no meio jurídico), gerundismo (uso excessivo e desnecessário do gerúndio), queísmo (uso excessivo e desnecessário do pronome que), parequema (sílaba inicial e final iguais em palavras seguidas - regra gramatical), paradoxo vicioso (antítese desnecessária, não intencional e sem valor estilístico)

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