Vogais átonas - Novo Acordo Ortográfico

O emprego do e e do i, assim como o do o e do u, em sílaba átona, regula-se fundamentalmente pela etimologia e por particularidades da história das palavras. Assim se estabelecem variadíssimas grafias:

a) Com e e i:

ameaça, amealhar, antecipar, arrepiar, balnear, boreal, campeão, cardeal (prelado, ave, planta; diferente de cardial = «relativo à cárdia»), Ceará, côdea, enseada, enteado, Floreal, janeanes, lêndea, Leonardo, Leonel, Leonor, Leopoldo, Leote, linear, meão, melhor, nomear, peanha, quase (em vez de quási), real, semear, semelhante, várzea;
ameixial, Ameixieira, amial, amieiro, arrieiro, artilharia, capitânia, cordial (adjetivo e substantivo), corriola, crânio, criar, diante, diminuir, Dinis, ferregial, Filinto, Filipe (e identicamente Filipa, Filipinas, etc.) (Felipe é uma grafia antiga de influência espanhola, portanto aceitável), freixial, giesta, Idanha, igual, imiscuir-se, inigualável, lampião, limiar, Lumiar, lumieiro, pátio, pior, tigela, tijolo, Vimieiro, Vimioso;
b) Com o e u:

abolir, Alpendorada, assolar, borboleta, cobiça, consoada, consoar, costume, díscolo, êmbolo, engolir, epístola, esbaforir-se, esboroar, farândola, femoral, Freixoeira, girândola, goela, jocoso, mágoa, névoa, nódoa, óbolo, Páscoa, Pascoal, Pascoela, polir, Rodolfo, távoa, tavoada, távola, tômbola, veio (substantivo e forma do verbo vir);
açular, água, aluvião, arcuense, assumir, bulir, camândulas, curtir, curtume, embutir, entupir, fémur/fêmur, fístula, glândula, ínsua, jucundo, légua, Luanda, lucubração, lugar, mangual, Manuel, míngua, Nicarágua, pontual, régua, tábua, tabuada, tabuleta, trégua, vitualha.
Parágrafo 2º
Sendo muito variadas as condições etimológicas e histórico-fonéticas em que se fixam graficamente e e i ou o e u em sílaba átona, é evidente que só a consulta dos vocabulários ou dicionários pode indicar, muitas vezes, se deve empregar-se e ou i, se o ou u. Há, todavia, alguns casos em que o uso dessas vogais pode ser facilmente sistematizado. Convém fixar os seguintes:

a) Escrevem-se com e, e não com i, antes da sílaba tónica/tônica, os substantivos e adjetivos que procedem de substantivos terminados em -eio e -eia, ou com eles estão em relação direta. Assim se regulam:

aldeão, aldeola, aldeota, aldeão, aldeã, aldeamento por aldeia;
areal, areeiro, areento, Areosa por areia;
aveal por aveia;
baleal por baleia;
cadeado por cadeia;
candeeiro por candeia;
centeeira e centeeiro por centeio;
colmeal e colmeeiro por colmeia;
correada e correame por correia;
b) Escrevem-se igualmente com e, antes de vogal ou ditongo da sílaba tónica/tônica, os derivados de palavras que terminam em e acentuado (o qual pode representar um antigo hiato: ea, ee):

galeão, galeota, galeote, de galé;
coreano, de Coreia;
daomeano, de Daomé;
guineense, de Guiné;
poleame e poleeiro, de polé;
c) Escrevem-se com i, e não com e, antes da sílaba tónica/tônica, os adjetivos e substantivos derivados em que entram os sufixos mistos de formação vernácula -iano e -iense, os quais são o resultado da combinação dos sufixos -ano e -ense com um i de origem analógica (baseado em palavras onde -ano e -ense estão precedidos de i pertencente ao tema: horaciano, italiano, duriense, flaviense, etc.): açoriano, acriano (de Acre), camoniano, goisiano (relativo a Damião de Góis), siniense (de Sines), sofocliano, torriano, torriense [de Torre(s)];

d) Uniformizam-se com as terminações -io e -ia (átonas), em vez de -eo e -ea, os substantivos que constituem variações, obtidas por ampliação, de outros substantivos terminados em vogal:

cúmio (popular), de cume;
hástia, de haste;
réstia, do antigo reste;
véstia, de veste;
e) Os verbos em -ear podem distinguir-se praticamente grande número de vezes dos verbos em -iar, quer pela formação, quer pela conjugação e formação ao mesmo tempo. Estão no primeiro caso todos os verbos que se prendem a substantivos em -eio ou -eia (sejam formados em português ou venham já do latim); assim se regulam: aldear, por aldeia; alhear, por alheio; cear, por ceia; encadear, por cadeia; pear, por peia; etc. Estão no segundo caso todos os verbos que têm normalmente flexões rizotónicas/rizotônicas em -eio, -eias, etc.: clarear, delinear, devanear, falsear, granjear, guerrear, hastear, nomear, semear, etc. Existem, no entanto, verbos em -iar, ligados a substantivos paroxítonos com as terminações átonas -ia ou -io, que admitem variantes na conjugação, podem ser conjugados regularmente ou irregularmente:

negoceio ou negocio (cf. negócio);
premeio ou premio (cf. prémio/prêmio),
agenceio ou agencio (cf. agência),
comerceio ou comercio (cf. comércio),
diligenceio ou diligencio (cf. diligência),
licenceio ou licencio (cf. licença),
sentenceio ou sentencio (cf. sentença), etc.;

Outros são conjugados apenas regularmente:
evidencio (cf. evidência),
gerencio (cf. gerência),
alivio (cf. alívio),
angustio (cf. angústia),
cadencio (cf. cadência),
copio (cf. cópia),
denuncio (cf. denúncia),
renuncio (cf. renúncia),
vitorio (cf. vitória),
glorio (cf. glória),
ludibrio (cf. ludíbrio),
neglicencio (cf. neglicência),
obsequio (cf. obséquio),
parodio (cf. paródia),
policio (cf. polícia),
reverencio (cf. reverência),
vicio (cf. vício),
noticio (cf. notícia),
beneficio (cf. benefício),
consorcio (cf. consórcio),
contagio (cf. contágio),
contrario (cf. contrário),
distancio (cf. distância),
divorcio (cf. divórcio),
domicilio (cf. domicílio),
exproprio (cf. próprio),
expatrio (cf. pátria),
historio (cf. história),
oficio (cf. ofício),
principio (cf. princípio),
pronuncio (cf. pronúncia),
refugio (cf. refúgio),
substancio (cf. substância),
silencio (cf. silêncio),
suplicio (cf. suplício),
vistorio (cf. vistoria),
vivencio (cf. vivência),
calunio (cf. calúnia),
estagio (cf. estágio),
influencio (cf. influência),
inicio (cf. início),
financio (cf. finança),
irradio (cf. rádio),
judio (cf. judeu),
injurio (cf. injúria),
insidio (cf. insídia),
aproprio (cf. próprio),
referencio (cf. referência),
fantasio (cf. fantasia),
fatio (cf. fatia),
indicio (cf. indício),
inventario (cf. inventário),
prestigio (cf. prestígio),
privilegio (cf. privilégio),
reinicio (cf. reinício),
tangencio (cf. tangência),
concilio (cf. concílio),
confidencio (cf. confidência),
repatriar (cf. pátria),
cambiar (cf. câmbio),
auxiliar (cf. auxílio),
adverbiar (cf. advérbio)

Outros são conjugados apenas irregularmente:
medeio (cf. médio = meio)
anseio (cf. ânsia)
remedeio (cf. remédio)
intermedeio (cf. intermédio)
incendeio (cf. incêndio)
odeio (cf. ódio)
f) Não é lícito o emprego do u final átono em palavras de origem latina. Escreve-se, por isso:

moto, em vez de mótu (por exemplo, na expressão de moto próprio);
tribo, em vez de tríbu;
g) Os verbos em -oar distinguem-se praticamente dos verbos em -uar pela sua conjugação nas formas rizotónicas/rizotônicas, que têm sempre o na sílaba acentuada:

abençoar com o, como abençoo, abençoas, etc.;
destoar, com o, como destoo, destoas, etc.;
mas acentuar, com u, como acentuo, acentuas, etc.

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